quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Novos estudos trazem esperança de tratamento para quelóides

A cicatrização normal gera uma marca quase imperceptível no local em que ocorreu a lesão ou a sutura cirúrgica. Essa é a regra. Entre a mais famosa das exceções, está o queloide, problema menos comum e mais complicado do que o imaginado. Muitas pessoas confundem uma cicatriz um pouco mais alta ou larga com um queloide, mas não conseguem perceber a amplitude do problema quando realmente diagnosticado. Ele tem o aspecto endurecido devido à hipercicatrização, que gera o acúmulo de fibras e colágeno esteticamente desfavorável e, muitas vezes, incômodo. Além disso, não há garantia de solução com os tratamentos disponíveis.

Radioterapia, injeções de corticoide, betaterapia (uso de raios beta), laser e cremes siliconados revezam-se entre as melhores opções. Porém, talvez venha das mãos de cientistas do Hospital Henry Ford, em Detroit, nos Estados Unidos, a melhor solução: eles propõem uma terapia genética para o tratamento definitivo do problema. Os pesquisadores identificaram que o gene AHNAK pode oferecer uma melhor compreensão sobre como os queloides se desenvolvem.

Não só isso, a equipe liderada por Lamont Jones, vice-presidente do Departamento de Cirurgia Pescoço, Cabeça e Otorrinolaringologia do hospital, é a primeira a demonstrar que a alteração nesse gene pode ter um papel significativo no desenvolvimento biológico ou não do queloide. “Temos agora uma melhor compreensão de como esse gene se encaixa no quadro mais amplo do processo de cicatrização de feridas, o que pode ser importante na prevenção de cicatrizes em geral”, garante Jones.

O queloide forma áreas de pele levantadas e firmes. É mais frequente no peito, nos ombros, nas orelhas (após furar a orelha), nos braços e no rosto. Ao contrário das cicatrizes regulares, não diminui ao longo do tempo e, muitas vezes, se estende para fora do local da ferida. Uma combinação de tratamentos pode ser utilizada, dependendo do indivíduo; mas entre 50% e 100% das vezes volta após o tratamento.

Adesão celular
Do AHNAK é transcrita uma proteína localizada na membrana celular de células epiteliais e no núcleo e no citoplasma de outros tipos de células, como os fibroblastos. Estudos anteriores levantaram a possibilidade de esse gene contribuir para a adesão entre as células, mas, para seu estudo, Jones o investigou como um potencial biomarcador de queloides. Ele e a equipe examinaram amostras de tecido fresco queloidal e normal para a expressão do gene. Três das cinco amostras de queloide apresentaram uma grande redução na expressão do gene quando comparadas às normais.

A expressão do AHNAK foi consistente com a metilação, um processo que permite aos investigadores procurar anormalidades genéticas dentro de amostras tumorais. “Identificar esse gene dessa forma coloca a nossa investigação um passo mais perto de sair do balcão de laboratório para as mesas de cabeceira dos pacientes”, aposta Jones.


Machucado selado
Contribuem efetivamente para o processo de cicatrização de ferimentos. São ativados por mediadores químicos de cicatrização, se deslocam até a região ferida da pele e ficam hipertrofiados (excessivamente desenvolvidos). Assim, produzem enorme quantidade de fibras e substância amorfa. Em pouco tempo, a lesão é envolta por uma rede de fibroblastos e pequenos vasos sanguíneos. Os fibroblastos grandes passam, então, a se contrair facilmente, o que sela a lesão.