quarta-feira, 13 de abril de 2016

Associação de técnicas tem se mostrado eficaz no tratamento contra o quelóide

Queloides constituem uma proliferação anormal de fibroblastos após injúria da pele que ultrapassam bordas da ferida, causando aparência inestética e grande prejuízo à qualidade de vida destes pacientes. Atualmente não há uma terapêutica combinada eficaz para redução das massas queloidianas, inibindo sua recidiva. Neste trabalho apresentamos uma série de casos tratados com uma associação de técnicas (excisão cirúrgica pela técnica de shaving, injeção intralesional de corticosteroide e/ou bleomicina, aplicação de placa de gel de silicone, luz intensa pulsada, laser de CO2 fracionado, laser Nd:YAG, laser Erbium:Glass e LED vermelho e infravermelho), atuando na fisiopatologia do queloide, que demonstraram resultados satisfatórios e duradouros.

Introdução

 A incidência é maior em indivíduos com fototipos de Fitzpatrick elevados e as regiões corporais mais afetadas são face, lóbulo auricular, região esternal, ombros e áreas mais ricas em melanócitos. O diagnóstico é essencialmente clínico e o paciente pode referir dor, prurido, hipersensibilidade, limitação de movimento, desconforto social e psíquico devido aparência inestética, causando grande prejuízo à qualidade de vida1-5.
Nenhuma terapêutica isolada demonstrou ser totalmente eficaz para tratamento do queloide. No presente estudo apresentamos pacientes com queloides, decorrentes de acne, tratados com sucesso em uma sequência organizada de combinação de variadas técnicas.

 


Figura 1 - Paciente A antes do tratamento.

 

Figura 2 - Paciente A - shaving nas lesões à direita e excisão intralesional com sutura em lesões à esquerda.

 
Figura 3 - Paciente A após tratamento.


 
Figura 4 - Paciente B antes tratamento.

 
Figura 5 - Paciente B após tratamento.

Métodos

Foram tratados, entre 2008 e 2013, três pacientes com idades entre 22 e 39 anos, fototipos II a IV, que apresentavam em comum cicatrizes do tipo queloide em face, tórax anterior e ombros decorrentes de acne.
Paciente A: masculino, 39 anos, fototipo IV, com queloides extensos decorrente de acne em região esternal, foi submetido a quatro shavings com lâmina de barbear do relevo da lesão, com intervalo mínimo entre elas de quatro meses. Todas as sessões foram acompanhadas de infiltração intralesional de triancinolona ou bleomicina. Além disso, foi submetido a uma sessão de laser Erbium:Glass, uma sessão de Luz Intensa Pulsada (LIP) e 19 sessões de LED (Ligth Emitting Diode) vermelho e infravermelho. A duração do tratamento foi 42 meses (Figuras 1, 2 e 3). Paciente fez uso complementar de placas de silicone.
Paciente B: feminino, 29 anos, fototipo II, com cicatriz de acne queloidiana em face, foi submetida a três shavings, 11 infiltrações intralesionais de triancinolona ou bleomicina, uma sessão de laser Erbium:Glass e duas sessões de LIP, num período de 36 meses (Figuras 4 e 5).
Paciente C: masculino, 22 anos, fototipo III, com cicatrizes decorrentes de acne do tipo queloide em tórax anterior, posterior e ombros, foi submetido a duas excisões cirúrgicas, 19 infiltrações intralesionais de triancinolona ou bleomicina, uma sessão de LIP, 18 sessões de LED vermelho e infravermelho, 5 sessões de laser de CO2 fracionado e 6 sessões de Neodym:YAG laser (Nd:YAG). O tratamento completo teve duração de 31 meses (Figuras 6, 7 e 8).
Todos pacientes foram tratados de maneira organizada, conforme a fisiopatologia dos queloides, promovendo inicialmente diminuição da massa, mecanismos de inibição e prevenção de seu crescimento e finalmente tratamento da coloração.




Primariamente realizamos remoção das massas queloidianas através da técnica de shaving com lâmina de barbear, a fim de evitar a injúria da pele normal com consequente estímulo da formação de um novo queloide. Esta técnica foi comparada com a remoção cirúrgica da porção interna do queloide do paciente A e demonstrou ser superior (Figura 4).
Imediatamente após o shaving realizamos infiltração de triancinolona (20 mg/ml diluída em partes iguais com xilocaína com vasoconstritor) ou bleomicina (diluída em 8 ml de solução com 7 ml de xilocaína sem vasoconstritor) para promover atrofia e inibição de crescimento. A distância entre os pontos das infiltrações foi de 1 a 2 mm até o branqueamento total da lesão.
Após a infiltração realizamos LED infravermelho (20 minutos) e vermelho (20 minutos). Em seguida foi solicitado o uso da placa de gel de silicone a todos pacientes de maneira obrigatória.
A fim de inibir a inflamação, todos pacientes foram submetidos semanalmente a sessões de LED infravermelho e vermelho e mensalmente a infiltração intralesional.

 

Figura 6 - Paciente C antes do tratamento.

 
Figura 7 - Paciente C durante tratamento.
 

Figura 8 - Paciente C após tratamento.

No final, com intuito de diminuir a coloração dos queloides e melhorar o aspecto da cicatriz, alternamos LIP (filtro de 540 nm, 20 ms, 16-20 J) ou laser Nd:YAG (1064 nm, 30 ms, 90-100 J) e laser de CO2 fracionado, sempre seguidos de infiltração intralesional, já que todos métodos térmicos estimulam a produção de colágeno e por isso deve ser inibidos.
Para controle realizamos infiltração intralesional a cada dois meses por um ano e, posteriormente, a cada três meses.

Discussão

Excisão com lâminas flexíveis ou shaving com lâmina de barbear é uma técnica que vem sendo utilizada com sucesso no tratamento de lesões superficiais. Uma lâmina de barbear flexível é mantida entre dois dedos e usada para realizar a exérese tangencial intralesional. A profundidade da excisão é controlada pelo cirurgião, de acordo com a curvatura imposta à lâmina. Anestesia tumescente é indispensável nessa técnica, pois o turgor cutâneo e o edema resultante facilitam o deslizamento da lâmina através dos tecidos e a possibilidade de excisar finas camadas de pele6-8. Não há na literatura estudos grandes que utilizassem essa técnica para o manejo do queloide. A maioria dos estudos com utilização de terapêutica cirúrgica para o queloide utiliza a técnica de excisão intralesional e sutura. As taxas de recorrência de queloides após excisão variam entre 45% e 100%. Por esse motivo, a intervenção cirúrgica é frequentemente seguida por terapia adjuvante, tais como injeção de corticosteroides, bleomicina, entre outros3,8,9.
A infiltração intralesional com corticosteroide é terapêutica bem conhecida e utilizada para o tratamento do queloide desde meados 1960. Ocorre a interrupção do processo inflamatório, vasoconstrição e atividade antimitótica nos fibroblastos e queratinócitos1. As taxas de resposta são altamente variáveis, com valores que variam de 50% a 100%, e uma taxa de recorrência de 9% a 50%. As injeções de triancinolona podem proporcionar alívio sintomático do prurido e os efeitos colaterais incluem atrofia cutânea, telangiectasia e dor no local da injeção2,10-12. Estudos apontam que a injeção de triancinolona por si só é eficaz em reduzir o volume das lesões na maioria dos pacientes (nível de evidência A)10,11,13. Syed e Bayat utilizaram uma combinação de três esteroides conhecidos: dexametasona, triancinolona e metilprednisolona e sugeriram que a eficácia pode ser superior à utilização de um único esteroide. Com estas evidências disponíveis, esteroides intralesionais devem ser considerados como a primeira linha de tratamento para queloides12-14.
A bleomicina é um polipeptídeo citotóxico com propriedades antitumorais, antibacterianas e antivirais, isolado a partir do fungo Streptomyces verticillus. O efeito ativo da bleomicina usado no tratamento de queloides é a inibição da síntese de colágeno pelos fibroblastos através de diminuição da estimulação por fatores de crescimento. 

Conclusão

A utilização de tratamentos isolados para o queloide é cientificamente comprovada, porém poucos trabalhos descrevem associações com efetividade e longo período sem recidivas. Neste estudo realizamos uma combinação de terapias que, quando associadas, ainda não havia evidência científica consistente, com resultados satisfatórios e longo período de acompanhamento. A associação de variadas técnicas atuando na fisiopatologia do queloide demonstra ser uma ótima opção para melhora e manejo do queloide.

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